Dummling e o Patinho Feio:
Como os rejeitados dos contos
de fadas nos ensinam a aceitar o que somos!
Desde pequenos, somos apresentados a histórias que, embora
muitas vezes pareçam apenas fantasias para entreter, carregam sementes
profundas de sabedoria. Entre essas histórias estão as do Dummling e do Patinho
Feio, personagens que não seguem o padrão esperado, são ridicularizados e
excluídos, mas que guardam lições poderosas para quem tem olhos de ver.
O Dummling, presente em diversos contos populares alemães, é
o “bobo da família”, aquele tido como simples demais, ingênuo, quase um peso
morto entre irmãos ditos mais competentes. Já o Patinho Feio, no célebre conto
de Andersen, nasce diferente, feio aos olhos dos outros, desajeitado e
deslocado. Ambos carregam, no cerne de suas histórias, a mesma experiência
humana: a rejeição por não se encaixar, por destoar do modelo que o mundo
espera.
Quem nunca se sentiu assim? Inadequado, fora do tom,
criticado por ser quem é? Quantas vezes tentamos caber em moldes alheios,
sufocando nossa natureza para sermos aceitos, para não sermos motivo de
deboche, para não decepcionarmos quem projeta em nós as suas próprias
expectativas? A dor desses contos é a nossa dor. Mas é também o nosso portal.
Curiosamente, o que torna Dummling motivo de chacota é o que
o conduz ao inesperado triunfo. Sua delicadeza de espírito, sua falta de
malícia, sua disposição em ajudar o outro sem cálculos o levam a caminhos que
seus irmãos arrogantes jamais enxergariam. Em "O Ganso de Ouro", por
exemplo, é essa sua pureza quase tola que faz com que o milagre aconteça — algo
tão improvável que só mesmo um coração simples seria capaz de atrair.
O Patinho Feio percorre uma jornada ainda mais visceral.
Escorraçado por todos, ele se arrasta pela vida crendo estar marcado por um
defeito irreparável, até o dia em que encontra seu reflexo na água e percebe:
não era um pato deformado. Era um cisne. Sua transformação não foi, na
essência, uma mudança, mas um reconhecimento. O que ele era sempre esteve ali,
só não havia sido visto — nem por ele mesmo.
É assim também conosco. Muitas vezes passamos a vida fugindo
das partes de nós que julgamos fracas, estranhas ou constrangedoras, apenas
porque elas não se encaixam no molde do que nos ensinaram a admirar. Carl Jung
chamou isso de sombra: tudo aquilo que reprimimos ou negamos em nós, mas
que contém um imenso potencial adormecido. Ao invés de ser um baú de monstros,
a sombra guarda talentos não reconhecidos, sensibilidades únicas, riquezas
soterradas pela vergonha.
Olhando com o olhar dos contos, fica claro: o problema não
estava no Dummling nem no Patinho Feio. Estava no olhar distorcido de quem os
rodeava. E, tantas vezes, somos nós mesmos que nos olhamos assim, com olhos
severos, moldados por padrões que nunca questionamos. Vale se perguntar: quem
foi que disse que eu precisava ser de outro jeito? Quem definiu o que é ser
“esperto”, “bonito”, “bem-sucedido”?
Uma boa prática é refletir sobre isso com sinceridade. Pegue
papel e caneta e anote três características suas que você costuma criticar ou
esconder. Agora, se dê o direito de imaginar: em que situações essas
características poderiam ser seus maiores dons? Aquilo que te torna diferente
pode ser exatamente o que o mundo mais precisa.
Os contos falam, com suavidade, daquilo que nossa alma sabe,
mas o ego teme admitir: a nossa jornada não é sobre nos tornar algo que não
somos. É sobre redescobrir, com espanto e ternura, aquilo que sempre esteve
ali. O Dummling não virou um irmão orgulhoso para vencer; o Patinho não deixou
de ser sensível para ser aceito — eles triunfaram por finalmente se permitirem
existir como eram.
Se essas histórias tocam algo em você, te convido para
aprofundar esse tema em nossa roda virtual do Livro Mulheres Que Correm Com os Lobos, sobre o conto O Patinho Feio, que acontecerá no sábado dia 02/08, às 15h. Será um
espaço seguro para explorar como esses velhos contos podem ser espelhos
terapêuticos poderosos de autoconhecimento para a nossa jornada interior.
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